Casarão da Fazenda Cipo Jequitai
O município de Jequitaí tem sua história ligada ao ciclo do ouro, descoberto no ano de 1872, já no final do Império, por viajantes que faziam o trajeto Vila de Formigas, hoje Montes Claros (MG), para Vila Nossa Senhora do Bom Sucesso e Almas da Barra do Rio das Velhas, hoje Barra de Guaicuí, distrito de Várzea da Palma(MG). Ao atravessarem um rio, no lugar denominado Porto Inhay, encontraram diamantes de qualidade apreciável e ali se estabeleceram. Depois, prosseguindo em sua viagem, chegaram à fazenda do Major Cipriano de Medeiros, mais tarde Barão de Jequitaí, a quem vendeu os diamantes, o Major, por sua vez os comercializou em Diamantina (MG).
Nasceu em 1829, na Fazenda Cedro, no Arraial do Bom Fim (atual município de Bocaiúva). De instrução, conseguiu apenas o curso primário, mas era possuidor de rara inteligência, habilidade e tino comercial. Ainda jovem, foi trabalhar na Fazenda Brejo Grande, então de propriedade de Antônio Caetano Nunes de Macedo e sua esposa Ludovina da Costa Ferreira. Com a morte dos proprietários, que não deixou filhos, a Fazenda Brejo Grande, que tinha onze mil alqueires, passou a pertencer aos escravos por testamento. Como não havia um líder entre os escravos que soubesse administrar a fazenda, optaram por vendê-la.
Com uma grande engenharia financeira, conseguiu obter recurso e arrematou a fazenda de porteira fechada: terras, benfeitorias e criações. Estava iniciando uma epopéia empresarial de um homem que deixou marcas na história norte-mineira. Com dinamismo explorou a fazenda fazendo aumentar os lucros. O foco do seu negócio era a pecuária. Com isso passou a adquirir outras fazendas e escravos na região.
Com freqüência viajava ao Arraial do Tijuco (atual município de Diamantina) a negócios e, em pouco, tempo tornou-se figura conhecida, respeitada e admirada. O Arraial do Tijuco, naquela época, era a Meca comercial de todo o Norte, Noroeste e Vale do Jequitinhonha. Os comerciantes locais estavam tendo problemas para receber dívidas de produtores na região de Urucuia (Noroeste), onde predominava a lei do mais forte. Os comerciantes eram ameaçados de morte e postos a correr quando iam cobrar as dívidas. Aparentemente não havia solução e os prejuízos só aumentavam.
Cipriano teve conhecimento do problema e deu uma solução, que exigia habilidade, jeito e elevada dose de inteligência. Simplesmente comprou dos comerciantes as dívidas com desconto de cinqüenta por cento.
Para receber as dívidas, preparou a primeira expedição ao Urucuia com dezenas de homens da sua fazenda, devidamente armados e dispostos a tudo. O ritual da primeira expedição foi seguido à risca pelas demais. À frente de sua tropa particular, com armas colocadas à vista, chegava à fazenda do devedor, com ar solene e dizia:
– Pois é, meu
amigo, estando de viagem para a região do Urucuia, a negócio de compra de gado,
e sabendo o senhor como uma pessoa honesta, com débitos vencidos no Arraial de
Tijuco, julguei que isso não ficava bem.
Eis aqui a devida quitação dos credores. Como pretendo
comprar gados, e sabendo o senhor possuidor de grande criatório, venho fazer
negócio. Negócio a dinheiro, pois o pagamento é a quitação de seus
compromissos, com a sua assinatura pelas suas mercadorias recebidas. Tenho,
entretanto, de receber a mais, pelos juros e as despesas de viagem, pois o
amigo teria de arcar com as mesmas para fazer o pagamento no distante Arraial
de Tijuco.
Nenhum devedor
visitado contestou a dívida cobrada, pois a tropa de Cipriano estava ali para
garantir a cobrança. Com isso ganhou muito dinheiro e expandiu a sua fortuna.
Ele foi um
visionário. Em suas andanças logo percebeu a importância viária do rio São
Francisco. Em 1875, com a descoberta de Diamante no rio Jequitaí, vislumbrou
intenso comércio naquela região. Cidades como Coração de Jesus, Montes Claros e
outras já se abasteciam com produtos oriundos do Nordeste do Brasil via rio São
Francisco. Com isso, partiu para a realização de ser o concessionário para a
construção e administração da estrada de ferro Montes Claros ao porto de
Extrema (atual município de Ibiaí). Conseguiu a concessão do governo da
Província de Minas, através da lei nº 3.648. Um ano depois, vendeu a concessão
para uma Companhia da Corte do Rio de Janeiro por cento e cinqüenta mil contos
de réis. Já pressentia futura crise no setor rural com libertação dos escravos
que se aproximava.
Com a
emancipação dos escravos em 1888, a economia do setor rural na região
norte-mineira passou por processo de decadência. Com Cipriano não
foi diferente. Como os seus negócios eram diversificados, conseguiu sobreviver
e manter a sua fortuna.
Veio a falecer em 1891, repentinamente, quando entregava cerca de mil cabeças de gado em lugar denominado Pedra da Brígida, dezoito quilômetros de Várzea da Palma.
Deixou uma fortuna. Foram mais de 25 fazendas, com área de mais de trinta e cinco mil alqueires e mais de trinta mil cabeças de gado. Mais de uma centena de casas em cidades e povoados. Seiscentos contos de réis em diamantes, mais de oitocentos contos de réis em empréstimos e cerca de quinhentos contos de réis em dinheiro vivo. Uma grande fortuna, até mesmo para os padrões de hoje.
A notícia do descobrimento das preciosas pedras em 1875 se espalhou, trazendo às
margens do referido rio, gente de toda a parte. Mais ou menos 500 garimpeiros
que se acampavam em choças de palha e capim formavam um futuro arraial. A maior
parte de seus primeiros habitantes eram diamantinenses e, em homenagem a esses
intrépidos, hoje existem na cidade algumas ruas com os nomes: Diamantina,
Mendanha, Inhay, etc. Como o alimento básico de que os garimpeiros se serviam
era o peixe, eles armavam um balaio (Jequi), no meio das
pedras (Ita) dentro do rio (Hy), onde nasceu
o nome Jequitaí, que até hoje se conserva, devido a sua origem e significado.
Pela Lei Provincial nº 1996 de 14 de novembro de 1873, foi elevado à categoria de Vila de Jequitaí, com sede no Arraial do Senhor do Bonfim, então município de Montes Claros (MG). Dois anos depois, a Lei nº 2145 transformou a Vila de Jequitaí em distrito de Montes Claros (MG). Pela Lei Provincial nº 2810 de 04 de outubro de 1881, foi a sede transferida para o Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Jequitaí, e mais tarde elevada à cidade de Jequitaí, pela Lei Provincial nº 3276, de 30 de outubro de 1884, época esta de notório desenvolvimento, motivado pela lavoura, e, em grande parte, pela extração de seus diamantes. No entanto o povo de Jequitaí gozou as regalias de cidade por pouco tempo, já que a Lei nº 44 de 17 de abril de 1890 reduziu a cidade a um simples distrito, passando a denominar-se Vila Nova de Jequitaí, sofrendo um grande revés, voltando a pertencer a Montes Claros (MG). Em 1948 foi proclamada a independência político-administrativa de Jequitaí, sendo elevada novamente a categoria de cidade pela Lei nº 336 de 27 de dezembro de 1948, constituído somente do distrito da sede.
É naquela região que está situada a Lapa Pintada, que constitui importante sítio arqueológico. Outros atrativos são o Curral de Pedras, belo refúgio de pássaros e animais silvestres, e a catarata do Sítio, que forma uma linda piscina natural.